Já lá vai um ano que fui de férias. E muitas são as coisas para contar.
Durante este ano vivi numa montanha russa de emoções. Não tive direito a meio termo, nem tão pouco a coisas normais.
Realizei sonhos, encontrei tesouros… mas também foi assombrada pelo pior de todos os pesadelos…
Sinto finalmente a capacidade para escrever sobre o assunto. Um assunto que me caiu nas mãos em Junho do ano passado.
Era segunda feira de sol e eu recebia o envelope mais assustador de toda a minha vida. Naquele momento teria feito mais sentido um envelope armadilhado, que explodisse mal fosse aberto. Eu estava mais preparada para rebentar junto com ele do que para ler o que lá estava escrito.
O resultado da biopsia, realizada na minha mãe, não era o esperado! Dois carcinomas (tumor maligno desenvolvido a partir de células epiteliais ou glandulares) na mama esquerda e um gânglio axilar.
Sim, a minha mãe estava com cancro e era eu que tinha o envelope na mão, era eu a portadora da terrível notícia. Caí no chão frio daquele consultório. Não conseguia controlar a respiração nem as lágrimas. Nenhum músculo do meu corpo me obedecia. Ali estava, prostrada no vazio sem vontade de me mover. Senti uma voz a aproximar-se. Pegou-me pelo braço e gentilmente fez-me sentar no sofá. Só agora via o rosto da voz, era a recepcionista do médico, a mesma pessoa que minutos antes me tinha dado o maldito envelope. Com delicadeza pediu-me para ter calma e sugeriu que não desse a noticia à minha mãe. Aconselhou-me que aguardasse pelo regresso do médico que estava ausente do país num congresso.
Ela só podia estar a gozar-me! Como podia eu aguentar aquela dor, sozinha, por uma semana!? Era um fardo grande demais! Mas naquele momento não vi nenhuma outra solução e segui o concelho.
Chorei tudo o que tinha de chorar… limpei os olhos, lavei a cara e saí.
Não fui capaz de guardar o segredo e tive de partilha-lo, na esperança de diminuir a dor. No ombro do homem que amo voltei a chorar e, no ombro do homem que me ama encontrei a força necessária para lutar!
Uma semana depois contei à minha mãe. Fui a missão mais difícil da minha vida. Nunca imaginei ver os olhos de uma pessoa perderem a vida, mas foi isso que aconteceu, a luz dos olhos da minha mãe morreram naquele momento e só ressuscitaram dois meses depois, quando iniciou os tratamentos de quimioterapia no IPO.
Unidos como nunca, assumimos que venceríamos esta luta.
Vivemos sete meses de quimioterapia, uma mastectomia radical, 6 semanas de radioterapia e vamos continuar durante um ano em tratamento de anticorpo (produto que é injectado como se fosse quimioterapia).
Acreditamos que o pior já passou mas sabemos que ainda temos muito para andar!
A vitória será nossa e não dele!